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O que pode ser pior do que introduzir uma praga? - II
07/06/2016
Amaranthus palmeri, recentemente detectada no Brasil, pode se tornar rapidamente resistente a herbicidas

Em janeiro de 2016, o portal DefesaVegetal.net publicou um texto sobre a introdução de uma planta-daninha que era um problema dobrado para o produtor rural, além de competir com a cultura e causar prejuízos expressivos para cana-de-açúcar, é hospedeira do fungo causador da helmintosporiose em milho. Situações como essa ilustram que a introdução de um organismo pode ter efeitos indiretos e que, portanto, esforços no sentido de evitar novos eventos de invasão são tecnicamente justificáveis.
Agora, imagine se uma espécie introduzida possui um alto potencial para se tornar resistente a métodos de controle? Considerada uma das pragas de mais difícil controle nas lavouras americanas, Amaranthus palmeri tem características de espécie altamente competitiva: cresce rapidamente, apresenta alta fecundidade, eficiência no uso da água e luz e produz mais de 600 mil sementes por planta. A presença de 8 a 9 plantas por metro quadrado reduz a produtividade da soja em 78% e do milho em 91%. Em algodão, a perda de produtividade pode ser de 77%.
Como a espécie apresenta alta adaptabilidade, rapidamente pode se tornar resistente a herbicidas. Atualmente, sabe-se que ela apresenta resistência a pelo menos cinco modos de ação de herbicidas: inibidores de ALS, inibidores de síntese de carotenoides, glifosato, dinitroanilinas e triazinas. Para complicar ainda mais a vida do produtor, como a espécie reproduz exclusivamente através de polinização cruzada, a resistência a herbicidas se espalha rapidamente na população.
Com a ampla ocorrência da resistência aos inibidores de ALS e ao glifosato, o uso de inibidores de oxidase protoporfirinogênica (PPO), tais como o fomesafen, a fluomiazina, a saflufenacila e a sulfentrazona, foi intensificada. Para estudar o mecanismo de resistência de Amaranthus palmeri ao fomesafen, pesquisadores americanos aplicaram o produto na dosagem recomendada sobre plântulas. Os efeitos do produto (nanismo, clorose, necrose, dessecação) foram avaliados após 21 dias. As plantas sobreviventes foram cultivadas e cruzadas e os sobreviventes foram novamente tratados com o fomesafen.
A frequência de plantas resistentes ao fomesafen aumentou de 5 para 17% de uma geração para outra e a dosagem necessária para alcançar 50% de redução no crescimento das plantas de segunda geração foi 21 vezes mais alta do que na linhagem suscetível.
Os resultados alertam para a importância do programa de erradicação que está em curso no Mato Grosso [1]. Caso a praga venha a se alastrar e se torne um problema no Brasil, será necessário adotar medidas para que não tenhamos o mesmo destino que os norte-americanos estão tendo: a redução na disponibilidade de tecnologias eficazes para controle.
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