Do Cacau à Jurubeba
Fungo causador da vassoura-de-bruxa adapta-se a solanáceas nativas e cultivadas no Brasil

Considerado por algumas civilizações pré-colombianas como o alimento dos deuses, o cacaueiro é nativo do continente americano, onde foi domesticado. Sua origem é tema de debate - alguns autores admitem que ele surgiu na região amazônica, enquanto outros defendem uma origem no noroeste da Colômbia ou na América Central/ Sul do México. O fato é que, a partir das grandes navegações do século XVI, ele começou a ser distribuído para todo o mundo e áreas de produção foram implantadas nas regiões onde o clima fosse favorável.
O cacaueiro chegou à Bahia no século XVII e passou a ser cultivado em meados do século XVIII, em Ilheus. Era o início de um importante ciclo econômico para o estado e que florescia quando, na década de 1990, foi descoberta a presença da vassoura-de-bruxa no estado. A produtividade teve uma queda vertiginosa: de 400 mil toneladas em 1984/85 para 160 mil quinze anos depois.
A vassoura-de-bruxa é causada por um fungo - Moniliophthora perniciosa. Além do cacau, esse fungo ataca algumas espécies de solanáceas no Brasil, incluindo espécies de importância econômica e silvestres. Portanto, conhecer a estrutura da população e elucidar se há fluxo gênico entre os fungos que se desenvolvem nas plantas de cacau e entre os que se desenvolvem nas solanáceas são aspectos fundamentais para a proposição de medidas mais efetivas de manejo.
Para esclarecer essas questões, pesquisadores brasileiros realizaram um levantamento interessante: eles coletaram 203 isolados do fungo em plantas sintomáticas na Bahia e em Minas Gerais, tanto de cacaueiro quanto dos outros hospedeiros. Utilizando métodos moleculares e computacionais, eles observaram que há diferenças significativas entre os isolados obtidos em plantas de cacau e outras plantas hospedeiras. Ou seja, existe mais do que uma população estruturada por planta hospedeira do fungo. Os autores consideram que o cenário mais provável é de que o fungo tenha sido introduzido no cacaueiro e que, posteriormente, adaptou-se a hospedeiros da família Solanaceae.
Essa conclusão alerta para o risco dobrado que a introdução de uma praga pode ter para uma região, com um fungo adaptando-se a novas plantas hospedeiras que sequer são relacionadas ao hospedeiro original. Essas consequências são, muitas vezes, imprevisíveis e reforçam o velho ditado de que é sempre melhor prevenir do que remediar.
O artigo foi publicado em outubro de 2016 pela revista Plant Pathology.
Para saber mais:
Foto:
Tags: